sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Mergulhando pra respirar

Mar azul e corais


Dia 9/9. Acho que eu amo mergulhar. Talvez seja a melhor atividade do mundo. Talvez meus problemas iniciais tenham sido falta de experiência mesmo. Agora o equipamento tá redondinho, meu perfil de consumo de ar mudou completamente. Tô voltando pro barco com meio tanque ainda cheio, o que é um desperdício já que poderia ficar pelo menos mais meia hora dentro d'água. Fico atenta ao guia e ao grupo, mas comecei a me posicionar mais externamente. Vou curtindo meu mergulho na paz, sem trombar com ninguém. Esvaziando a mente igual um peixinho. Ar enriquecido pra dentro, bolhinhas pra fora. Uma paz.
Hoje fizemos três mergulhos. Dois de manhã, um de tarde. Nada de noturno. Cada dia aqui parece três. A gente tem bastante tempo pra fazer nada, mas são muitas atividades: acorda, prepara, mergulho, volta, arruma equipamento, come, descansa, prepara mergulho e esse ritmo até de noite. Normalmente jantamos 22h e eu já vou dormir porque o dia seguinte começa 6h30. Hoje não tem noturno porque vamos navegar até uma ilha. Precisamos chegar lá amanhã de manhã pro primeiro mergulho. Pessoal da tripulação trabalha demais. É meio cruel, mas eles disseram que ficam felizes por ter trabalho, o que também é meio triste. Eles fazem a viagem ser muito mais fácil.
Ainda temos mais de semana pela frente, mas o mergulho termina em dois dias. Talvez eu até sinta falta.
10/9. Dia de três mergulhos também. Acordei meio gripada. Tá todo mundo meio doente e eu não escapei. Problema é que o ouvido precisa equalizar na descida e subida. Se tiver congestionado, não vai dar. Fiz todos os mergulhos com problema de equalização. Espero não ter causado danos aos tímpanos. Já sou semi surda, não preciso ficar surda mesmo. Tirando a parte da equalização, todos os mergulhos foram tranquilos. Hoje era o dia do tubarão, mas só vimos três. Não quiseram aparecer pra gente. No primeiro mergulho, na hora que caí na água, já tava o tubarão lá me esperando. Depois vimos mais dois. Um deles estava atrás de mim mas meio distante, virei de frente pra ele e pensei 'vem, tubarão. vem, tubarão. vem, tubarão.' e ele veio. Quando ele tava chegando perto, pedi pra ele não vir mais e ele foi embora. Agora já acho que sou capaz de conversar com animais marinhos.
Hoje é a última noite no barco. Sinto que os gringos estão aliviados que vamos embora. Eles vivem torcendo o nariz, mas realmente brasileiro é muito barulhento. Amanhã temos dois mergulhos, vou considerar se vou ou não. Não quero forçar mais que o necessário, mas são os dois últimos.

11/9. Último dia. Dois mergulhos. Acordei muito mal. Decidi não mergulhar. Acho até que conseguiria equalizar, mas forçaria a toa. Não acho que seria em meu benefício fazer algo assim. Também era dia de naufrágio e é difícil demorar pra equalizar nesses casos. Se é área aberta, sem problema, o povo desce e eu fico em cima o tempo que precisar, mas se tem que entrar num naufrágio fica difícil demorar pra descer.
Fiquei feliz por ter chegado num ponto ideal do mergulho. Curti mesmo. A máscara com grau mudou tudo. Também cheguei na quantidade de lastro ideal. Se comecei querendo desistir de mergulho, já quero saber quando será a próxima. Mas é isso, dois mergulhos perdidos por questão de saúde. Não me arrependo, era necessário.
15h chegamos no porto. Pegamos o ônibus pra Luxor. Quase 5h de estrada. Quem mergulha precisa de um tempo antes de voar, como não teríamos esse tempo, melhor resolver com ônibus mesmo.

Agora é deserto.

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