domingo, 31 de março de 2024

Kilclooney Dolmen


Os dias anteriores ficaram sem postagem. Na verdade, eu escrevi, mas era uma história de ficção baseada em fatos reais e agora não quero mais postar.

O meu quarto ficava de frente pro cemitério.

Então vamos a um resumo: lavei as roupas, fui pra estadia seguinte. Não parei em nenhum lugar porque estava de pijama e chinelo. Fiquei no quarto esperando as roupas e tênis secarem. Queria assistir ao jogo do Brasil no pub, mas resolvi tirar um cochilo e só acordei após o jogo. Estava muito cansada. No dia seguinte, ainda não estava tudo seco e resolvi só ficar por perto mesmo. Dei uma volta pela cidade a pé e só. Pra ser sincera, olhei o mapa de todo jeito e não vi nada interessante naquela região. Foram dias lindos com alertas altíssimos de possibilidade de aurora. Se eu tivesse vindo direto pra onde estou agora, que tem 300 mil coisas pra fazer, estaria contando as cores da aurora que eu vi.
Bem, saí hoje cedo e fui pra Kilclooney Dolmen. É uma tumba de pedra que data de 3500 a 4000 anos AC. Senta e chora, Edinburgo!

São duas. Essa mais preservada e a outra ali atrás.

Estima-se que essa pedra pesa umas 100 toneladas. É realmente enorme. Fiquei pensando como fizeram isso aí. Minha teoria é que estava assim, só que com muitas outras pedras. Eles só calçaram essas pedras aí pra dar estabilidade, limparam as outras pedras inúteis e cavaram pra enterrar quem queriam. Chora, alienígenas do passado. Obviamente, que não tenho nenhuma outra teoria do por quê há tantas formações desse tipo. Dá pra acreditar que todas as pedras já estavam em suas posições e era só limpar a área e calçar as pedras escolhidas? Sim! (Ler com a voz do cara do cabelo arrepiado de alienígenas do passado). É possível. A única coisa que estraga minha teoria é quando provam que as pedras vieram de outra região. Acho que não é o caso dessas.

Kilclooney Dolmen

Só sei que é impressionante e me força a pensar em nós como humanidade.
Precisei usar a pedra pra me proteger da chuva. Espero que não haja nenhuma maldição atrelada ao uso do dolmo como guarda chuva, não estou podendo lidar com isso nesse momento.

Castelo de Donegal.

Também visitei o castelo de Donegal. Lá, em um cantinho, tem uma arte de uma comunidade americana e uma história. Lá vai: pra quem não sabe, em 1845 a 1852, a Irlanda passou por um período de grande fome. 25% da população morreu. Inúmeros fatores são responsáveis por esse período, entre eles, foram abandonados pelo Reino Unido (a Irlanda fazia parte do Reino Unido na época), que só recolhia os impostos enquanto assistia a população morrer. 
Indígenas americanos da tribo Choctaws tinham acabado de chegar em suas novas terras, após serem expulsos de sua terra original, no Mississipi, num movimento conhecido como trilha das lágrimas e morte que custou a vida de quase 25% de sua população, quando souberam da grande fome na Irlanda. Eles se organizaram e juntaram 170 dólares (equivalente a uns 5 mil hoje) para mandar pro povo irlandês. E eu chorei bastante.
É por isso que vocês nunca vão me ver do lado de invasor. Meu lado sempre será o dos povos originários. Sempre. Eles são os únicos que amam de verdade o chão que pisam. Tratam com respeito e amor. E se reconhecem.
Por que a Irlanda e os irlandeses em sua maioria sempre se posicionam do lado certo? Porque eles ainda lembram tudo o que sofreram como colônia e fazem questão de nunca esquecer. Queria que brasileiros fossem mais assim, mas o fato é que se fosse pra escolher agora a maioria votaria pra ser colônia de algum desses país aí. No Brasil, a gente não tem conexão com a terra e fazem questão de nos manter assim.
Bem, a humanidade no geral é terrível, mas comunidades são maravilhosas. Só é difícil entender pra que tanto sofrimento num mundo tão abundante (frase que estava no castelo de Donegal). Em qualquer tipo de sociedade animal, um sujeito que tem o equivalente a um iate que precisa de um iate já teria virado camiseta de saudades eternas (sim, é gíria do twitter). Vê se um gorila vai sobreviver acumulando comida enquanto 80% dos outros passa necessidade. Nunca em mil anos.

Três burrinhos

Pra terminar com o astral lá em cima, fica a foto dos burrinhos. Saibam que meu tênis limpinho e sequinho afundou em água de côco de ovelha, mas eu vi o dolmo de Kilclooney bem de pertinho. Amanhã, se tudo der certo, tem mais pedra no meu caminho.

Escrito em 25/3/24.

sábado, 30 de março de 2024

Memorável

Downpatrick Head


Um dia pra entrar na história.
Fiquei pelada em público pela primeira vez na vida.
O dia começou normal. Estava indo em direção ao meu passeio quando dei falta da minha carteira. Resolvi voltar para o albergue para procurar. Achei. A mulher dos EUA estava no hostel claramente forçando um convite e eu acabei convidando pra ir comigo. Lá fomos nós de novo atrás da primeira parada. Downpatrick Head. Basicamente, hoje era dia de ver falésias e elas estavam lindas.

Preda (A chuva vindo)
A chuva já tinha passado

O dia hoje estava bem irlandês. Sol e chuva o tempo todo. Mas tinha sol. Então o esquema é se programar assim: sentir a direção do vento, olhar o horizonte a procura de nuvens, calcular o tempo pra chegar em você (dá pra ter uma noção) e torcer. No geral, em 5 minutos a chuva passa e o sol volta. Nessa área de Downpatrick, colocaram um abrigo e foi muito útil. Precisamos de refúgio por 5 minutos e depois estava tudo ótimo e ensolarado de novo.

A chuva sendo levada pelo vento
Downpatrick head blowhole

Visitamos as três atrações da área (é bem rapidinho porque é tudo perto. É lindo então dá vontade de ficar mais) e fomos em direção ao carro. Mas estava enlameado e tinha chovido e eu caí.
Toda vez que caio e não me machuco (não me machuquei, parecia um escorregador), fico pensando o tanto que é divertido cair. Puta sensação boa um tombo sem consequências. Dessa vez, tive uma consequência: minha calça ficou imunda. Não tinha como entrar no carro com ela. Não tinha banheiro em lugar nenhum. Minha mala estava no carro. Tive que tomar uma decisão. Troquei de calça.

O local onde fiquei semi nua em público. (é print do vídeo, não fiquem clicando em cima esperando o vídeo. E, sim, quis pegar a atenção do leitor dizendo que fiquei pelada.)

Não tinha muito o que fazer. Era uma questão de sobrevivência.
De calça limpa, seguimos para a próxima parada: Portacloy Loop-Cliff Walk. E aí o negócio ficou interessante. Era uma praia e tinha umas cavernas. Cheguei na parte da praia e comecei a caminhada pras cavernas. Acho que não deu 7 minutos e lá estava eu na lama de novo com minha calça limpinha. Minha última calça. Agora é achar uma lavanderia, mas no momento estou sem calças. E se vocês estiverem se perguntando onde está a bota de hiking excelente que comprei pra essa viagem: tá na casa da minha amiga, em Dublin.
Bem, ouvi dizer que era uma caminhada de 20 minutos e, como pessoa inocente que sou, acreditei. E, sim, dava pra andar 20 minutos e parar.

A visão após 20 minutos.

O problema é que tinha um monte de toco com setinhas apontando direções e eu cresci seguindo patinhas de farinha pra achar o ovo de páscoa. Não tinha como não continuar.

Depois de 50 minutos de caminhada (olha o dedo no canto inferior direito da foto e admire a cor do barro e imagine a calça)

O problema é que os tocos não paravam aqui e nós continuamos.

1h20 (A chuva tinha acabado de passar. Precisamos nos esconder num buraco porque o vento estava tão absurdo que parecia que ia derrubar a gente).

Essas eram as tais cavernas, mas o mar precisa estar mais baixo e calmo para serem visíveis. Bem, ainda tinha toco e nós seguimos.

A chuva vindo.

Na hora que vi essa chuva, sabia que era diferente e não sei explicar o por quê. Sei que achamos outro buraco e esperamos o impacto e ele veio. Chuva de granizo. Parecia agulha batendo. E essa demorou uns 7 minutos. Eu sabia que a gente estava abusando da sorte. Era hora de parar de seguir as setas.

Já voltando.

No total, foram umas 4 horas entre ir e voltar. Duas chuvas mais pesadas, ventos absurdos que tiraram meu equilíbrio várias vezes, um xixi no mato, uma calça a menos e um dia do jeito que eu gosto.

A cachoeira na saída.
E a praia.

Amanhã vou pra próxima cidade. Prioridade é achar uma lavanderia e depois um lugar pra dormir, porque ainda não tenho. Não sei se aguento o frio de dormir no carro, mas é uma possibilidade mais pra frente. Espero conseguir andar amanhã.

Escrito em 22/3/24.




sexta-feira, 29 de março de 2024

Correr contra o tempo é perder na largada.


Ontem foi um dia tão merda que vai ficar sem registro. É bom que vai diminuindo o atraso entre o acontecido e a postagem já que alguns estão comentando.
Hoje foi dia de estrada.

Uma praia na Irlanda

Não parei pra tirar muitas fotos porque as estradas aqui são bem diferentes das da Escócia. Muito mais rápidas, por isso a sensação de insegurança é maior. Na Escócia eu sempre encostava um pouquinho sem problemas, aqui não senti segurança. Estou no lado oeste da Irlanda, mais exatamente no condado de Sligo, mais exatamente em Easkey.
Quero ver praia. Vou entrar no mar? Provavelmente não (mas talvez sim, depende do nível do bom senso do dia). Quero ver montanha. Vou subir? Provavelmente não (mas talvez sim, depende do nível do bom senso do dia).
Tem sido dias muito difíceis pra mim, mas não posso contar o que tem acontecido. Aos amigos, com certeza já sabem ou saberão. O que eu sei é que estrada é uma coisa que me deixa melhor. Gosto. Horrível porque o meio ambiente não vai aguentar tanto vai e vem, mas é o tipo de vivência que eu amo.
Uma casa em ruínas e uma cachoeira meio suja (é a cor mesmo, por causa dos minerais da água)

O carro correndo, as paisagens passando e o cérebro ficando lisinho, lisinho. As paisagens são belas. Tem uma montanha bem linda que pretendo ver amanhã.
Hoje só cheguei no albergue em Easkey e fui andar. Tem um castelo aqui (novamente, usam essa palavra de forma bem solta) que tem uma escada escondida. Se a escada está escondida, dá pra achar.

Castelo

Dentro do castelo

São quatro paredes. Não tem como ser uma escada tão escondida assim, então obviamente achei.
E subi. A entrada é aquele buraquinho no piso mais baixo no canto direito superior na foto.

A vista lá de cima.

Depois do castelo fui ver uma pedra.
A pedra que parece um cachorro
Ou essa pedra
Mas talvez seja essa outra.

Sinceramente, não sei qual era a pedra ponto turístico. Com tantas pedras, quem decide qual é a especial? Pra mim, é a que parece o Snoopy.
Antes disso, vi o velho mosteiro e o cemitério.

Old Abbey and graveyard

Aqui nessa cidade é cheio de corvos e eles gritam sem parar. Então olhe esse visual, esse céu cinza e saiba que a trilha sonora é um monte de corvos gritando. Compõe demais o ambiente.
Essa ponte também é atração turística.

De cima da ponte.

E o rio seguindo seu caminho natural.

Quando estava pegando o caminho de volta pro albergue, vi três caras se preparando pra surfar. Cada um tem coragem do seu jeito. Mar frio e agitado tá fora da minha lista. Aqui é área de surfe muito conhecida. Achei que esperassem o verão, mas parece que não.
Escrevo já no fim do dia, pronta pra dormir.
No albergue, conheci uma mulher dos Estados Unidos, louca da conspiração, odiadora de imigrantes, me achou maravilhosa. Agora estou pensando o que há de errado comigo. Acho que ela não entendeu nada do que falei ou fingiu que não entendeu.
Aproveito pra apresentar o mascote do albergue. Uma simpatia.

Mais bonito que nós todos juntos.

Foi um dia bom. É hora de curtir o que der, mas daqui pra frente tudo terá uma nota de amargo.

Coloquei mais fotos porque uma amiga pediu. Coloco os links das músicas porque outra amiga pediu. Quem quiser pedir algo, aceito sugestões. Não garanto que irei fazer, mas escuto com carinho.


Escrito em 21/3/24.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Não sei nem o que dizer.


Olha, não sei como explicar, só sentir.
Essa é a última vez que alugo um carro na minha vida. Na minha existência, eu jamais irei alugar um carro novamente. Nunca, jamais, para todo o sempre, alugarei um carro. Vocês nunca me verão algum dia no futuro alugando um carro. Eternamente. Se me perguntarem se acham que um aluguel de carro deve ser feito, minha resposta sempre será 'nunca, por motivo nenhum'.
Espero que todos tenham entendido.
Bem, obviamente, não deu certo. Estou com o carro, mas a que custo. Amanhã saio de viagem. Vou rezar. Rezar muito pra que todos os problemas desse aluguel tenham acontecido hoje.
Amém.

Escrito em 19/3/24.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Próxima estrada

Alguma estrada na Escócia


Hoje é dia de preparar pra próxima estrada. Suspeito que não serão tão lindas quanto as da Escócia, mas certamente valerão a pena. Passei o dia me organizando. Quero que tudo dê certo dessa vez, mas acredito que não está sob meu controle. Eu rolo os dados e torço. Só posso fazer isso.
Tanta coisa está fugindo do meu controle. Tô precisando aprender a viver de outro jeito. Não tem sido fácil.

Escrito em 18/3/24.

terça-feira, 26 de março de 2024

Dia de São Patrício

Igreja da Irlanda ou Igreja de São Patrício


Pra quem não sabe, a igreja de São Patrício é protestante, não é católica. Apesar de a Irlanda ser um país católico, a influência britânica (colonialismo) é clara. A briga entre protestantes e católicos durou anos (obviamente não era uma briga puramente religiosa) e quem tá na minha faixa etária vai se lembrar. Quem não tem ou tem mas não lembra, assista Derry Girls na Netflix. É uma série bem curtinha e divertida que retrata a vida de adolescentes nessa época. O foco não é a guerra, são as adolescentes, mas a guerra está ali de fundo o tempo todo. Take That está na trilha sonora, claro. Ninguém foi maior nessa região nos anos 90 que o Take That.

Desfile de St Patrick's

Hoje foi um dia lindo. Temperatura agradável,  sem chuva e com sol. Obviamente São Patrício bateu um papo com São Pedro e pediu pra segurar a água e assim foi feito. Assistimos ao desfile, almoçamos (arroz com tofu, vegetais e shoyu. Sim, de novo) e fomos assistir a apresentação de dança irlandesa. Queria muito ter visto. Chegamos lá. Chegando lá, a fila era enorme e eu tô exausta. Ontem passei mais de 7h em pé pra ver o Liam (fui muito trouxa, desde quando Liam faz passagem de som? Metade das brigas com o irmão era porque ele não queria ir). Já tinha ficado outras sei lá quantas horas pra ver o desfile. Não rolou. Voltamos pra casa e encerramos o dia. Amanhã é feriado aqui (quando o feriado cai em final de semana, eles passam pra segunda). Hoje a noite será intensa no centro da cidade. Muitos bêbados por todo o canto. Estarei em casa.
Ontem a noite, depois do show, já vi o ritmo da cidade. Fica todo mundo muito doido mesmo. O desfile é para as famílias. Final do dia as famílias se recolhem e quem é de festa toma conta. A festa vai longe.

Escrito em 17/3/24.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Liam Gallagher e John Squire


Escrevo esse post deitada, depois de tomar banho depois de um dos melhores shows que já vi. Liam e Squire fizeram um excelente trabalho. O álbum tem dez músicas. Oito são excelentes, duas são mais ou menos. Muitas delas dão o tom da minha viagem, o que tem sido meio assustador, já que não é um álbum totalmente positivo. Ao vivo, tá perfeito. É um show curto e o Liam reclamou durante o show porque a imprensa reclamou que era curto. Um monte de reclamações pra um show redondinho demais. Tocam o álbum todo mais jumpin' jack flash dos Rolling Stones. Excelente.
Squire dá show. Um dos melhores guitarristas britânicos, não dava pra esperar nada diferente.
Liam com a voz excelente, no espírito de sempre: entra no palco pra brigar com o microfone. Por isso ele é tão agressivo. Brigou com o público também por causa de futebol, mas é parte do show. City e os Gallaghers são inseparáveis. O público sabe disso e gosta de provocar. Liam é um cara do povo, sempre entrega o que o público quer ver.
E eu vi o primeiro show de vários. Fiquei bem perto do palco. Gritei todas as músicas. Assisti o Squire tocando a guitarra e o Liam cheio de paixão cantando. Foi lindo. Carolina de 13 anos jamais imaginou que veria Liam Gallagher de perto. Cá estamos, décadas depois, frente a frente.
Eu vi todos os movimentos, todas as expressões bem na minha frente. São 30 anos e dá pra ver todo o jeito do Liam de 20 anos no Liam de 50. Mais marcas de expressão, claro, mas em muitos momentos era como ver vídeo de show de 95. Igualzinho. Sei que não chorei porque a sensação foi de ver na TV mesmo. Ele tava muito perto, os movimentos muito iguais. Era real, mas nem tanto. Talvez se tivesse durado uns minutos a mais eu teria entendido que era de verdade mesmo.

Escrito em 16/3/24.

domingo, 24 de março de 2024

O que há de novo sob o sol?

Uma florzinha pra dar paz


TPM chegou e com ela a depressão de TPM.
Passei a maior parte da vida sem menstruar porque tomava pílula contínua por causa do ovário policístico. Quando comecei a mergulhar, sabia que era um risco: obesidade + pílula + mergulho. Antes da primeira viagem com o grupo de mergulho, decidi parar. Acrescentar avião a essa soma aí, estava com cara de trombose.
Estou no meu segundo ano de ciclo depois de décadas em que o máximo que fazia era parar uns meses. Não é fácil, mas estou satisfeita. Acho que minha saúde mental está melhor. Não sinto mais aquela névoa constante sobre mim.
Mas preciso respeitar meu corpo. Não tem como funcionar normalmente na TPM e no início da menstruação. Acho errado exigir isso de alguém. Se eu estou de TPM, eu quero ficar o mais confortável possível porque tudo é mais sofrido. Se pra outras pessoas dá fazer tudo e nunca parar, faça tudo e nunca pare. Não é o meu caso e eu me permito ficar quieta.
Não estou na correria. Não há sangria desatada. O tempo é meu pra gastar como quiser. Se eu me arrepender, é a vida. Lido muito bem com decisões minhas que deram errado. Lido muito mal quando faço o que os outros querem e dá errado. É normal projetar nossas crenças nos outros, mas também é necessário saber que é isso que se está fazendo. E, pra quem já andou o suficiente, é necessário reconhecer o que é seu desejo real e o que é importunação alheia e seguir seu coração.
Aquela história de que plantar é escolha mas a colheita é obrigatória é real demais. Não plante bananas se não gosta de bananas, mas saiba que tem muita gente que ama e vai plantar. É meu único conselho.

Escrito em 15/3/24.

sábado, 23 de março de 2024

Várias estações

Powerscourt


As fotos estão, olha, uma bosta, mas não vamos reclamar.
Hoje foi um dia lindo por aqui. Sim, eles insistem que estamos na primavera porque se tem narcisos floridos é primavera. As estações são um contínuo. Todo inverno tem um pouco de outono e um pouco de primavera. Todo verão tem um pouco de primavera e um pouco de outono. Mas quem sou eu pra julgar os critérios de alguém? Só sei que chamar azul de vermelho não muda o azul.
Sabe o que é engraçado? Fomos a esse palácio aí, que tem uns jardins fenomenais. Disseram que erram a data por duas semanas. Se tivessem esperado mais duas semanas estaria tudo totalmente florido. Sabe o que acontece em mais ou menos uma semana? O início da primavera de verdade. Mas quem sou eu pra falar alguma coisa? Eu mesma queria esperar umas três semanas de primavera pra fazer tudo. O clima ficará muito mais agradável.

Início dos jardins (tá vendo aquele morrinho à direita? Desci rolando de lá.)
Tipo um portal de pedra e musgo
Vista de cima da torre
Chegando na cachu

Bem, andamos todos os jardins da Powerscourt. Subimos a torre, lanchamos no café e vistamos a cachoeira. Tudo isso ainda no inverno. Foi muito bom!

Escrito em 14/3/24.


sexta-feira, 22 de março de 2024

A matéria dos sonhos



Voltei a lembrar dos sonhos. Não toda noite, mas lembrei de um. Há anos não lembrava. Sinto falta. Sempre gostei de sonhos, até os pesadelos. São como filmes criados por si para si. Não tem como ser melhor.
Pesadelos são assustadores porque são seu maior medo de verdade. Não é o medo que se conta por aí, é o medo que se esconde até de si mesmo. Terror real.
Sonhos são tão impressionantes que são alvo de estudos e teorias há séculos. Alguns acreditam que podem ser premonitórios. Acredito que sonhamos pra processar e solidificar memórias.
Lembro de um dia que apliquei uma injeção intramuscular na minha irmã e ela desmaiou. De noite, ela sonhou que eu dizia que a agulha tinha quebrado. Tinha esquecido completamente dessa parte, mas durante a aplicação, de fato falei 'a agulha quebrou' (era só que a agulha não estava totalmente rosqueada na seringa então saiu líquido pelo lado, mas era só girar e estava tudo certo. Na hora, usei a palavra errada). Esse susto causou o desmaio e o pesadelo (é muito fácil ser meu irmão). Ela sonhou processando o trauma do dia. Nosso cérebro nunca descansa. Por isso meditação é tão útil.

O espelho

Não lembro mais o sonho que lembrei. Deveria ter anotado. No fim das contas, do que é feito o sonho? É só um sopro, um suspiro. Um micro segundo na memória. Toda a parte invisível de um iceberg. Vou dormir e torcer pra sonhar e lembrar o sonho. Quem sabe o próximo eu anoto.



quinta-feira, 21 de março de 2024

É possível conviver com a diferença?

Capel Street


Hoje demos uma voltinha por aí. Comprei meias quentinhas.
Descobri que nem todo o mundo usa o calendário astronômico pra definir as estações do ano e isso me chocou um pouco. Tipo, pra Irlanda, a primavera começou dia 1/2. Pra mim, isso é surreal. Como assim nem o critério pra estações do ano é universal? Existe algum consenso na humanidade? Só consigo pensar na contagem do tempo (minutos, horas e fuso horário). O que mais nós concordamos universalmente? Estou meio revoltada em saber que alguns países se recusam a usar a lógica pra definir coisas tão importantes.
Tudo isso porque eu disse que queria esperar a primavera pra visitar um certo lugar. Tive que discutir o óbvio. Agora tenho que lidar com o fato de que não há óbvio entre humanos.
Pelo menos tive um grande conforto no meu dia pra me ajudar a lidar com tamanha quebra de confiança na humanidade. Se tem uma coisa que sempre vai me satisfazer nessa vida é arroz (ou macarrão), tofu, vegetais e shoyu (sim, vou postar todas as vezes que comer, no final a gente vê quantas vezes comi). Restaurantes chineses sempre serão minha escolha de comida confortável e nutritiva em qualquer lugar. Duvido que os chineses me decepcionariam como os irlandeses acabaram de me decepcionar.
Restaurante Gushi 

Sem condições as coisas que a gente tem que passar quando sai de casa. Se eu estivesse em casa, jamais saberia que um país inteiro decidiu abrir mão dos solstícios e equinócios pra definir as mudanças de estação e todas as pessoas acham absolutamente natural. Esse país tinha bruxas, sabe?! Os círculos de pedras usam equinócios e solstícios. Os druidas usavam astronomia. Vou dormir revoltada.


Escrito em 12/3/24.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Um dia no parque

Vinhadinhos


Hoje fomos ao parque Phoenix aqui em Dublin. É o maior parque urbano da Europa. Seria o equivalente ao Parque da Cidade na América do Sul.
Vários veados moram no parque. São selvagens e vivem soltos. Por serem selvagens não podemos nos aproximar. Apesar do que falam por aí, também não pode alimentar. É igual macaquinho da Água Mineral: são selvagens, não alimente! Tinha visto vários vídeos de gente alimentando e achava que podia. Não façam isso!

Farmleigh house 

No parque, estão localizados alguns prédios importantes, inclusive a residência presidencial. Quero conhecer pois tenho muita esperança em fazer amizade com o São Bernardo presidencial. Um cachorrão enorme e fofo. Hoje estava tudo fechado porque as coisas só abrem depois do St Patrick's, que deve ser o equivalente ao carnaval por aqui.
Ainda assim, deu pra ver que tudo é bem bonito. As cerejeiras já estão floridas e a primavera já bate a porta no hemisfério norte.

Cerejeira
Magnolia 

Se não postar foto de florzinha, a primavera não vem.
Dia frio e nublado, mas com pouca chuva. Eu queria que não fosse verdade, mas estou sofrendo com o frio. No mundo ideal, haveria um lugar no mundo com temperatura entre 15 e 17 graus o ano inteiro. É esse frio que gosto. Frio de brasileiro. Frio de europeu é um negócio muito triste.
Após o parque, fomos almoçar num pub tradicional da cidade. Parece que em época de Natal ele é um dos mais concorridos por causa da decoração que fazem todos os anos. Hoje estava vazio e bem confortável.

Hole in the wall

Agora estou deitada no cobertor elétrico pra dormir quentinha e confortável.



Escrito em 11/3/24