domingo, 31 de março de 2024

Kilclooney Dolmen


Os dias anteriores ficaram sem postagem. Na verdade, eu escrevi, mas era uma história de ficção baseada em fatos reais e agora não quero mais postar.

O meu quarto ficava de frente pro cemitério.

Então vamos a um resumo: lavei as roupas, fui pra estadia seguinte. Não parei em nenhum lugar porque estava de pijama e chinelo. Fiquei no quarto esperando as roupas e tênis secarem. Queria assistir ao jogo do Brasil no pub, mas resolvi tirar um cochilo e só acordei após o jogo. Estava muito cansada. No dia seguinte, ainda não estava tudo seco e resolvi só ficar por perto mesmo. Dei uma volta pela cidade a pé e só. Pra ser sincera, olhei o mapa de todo jeito e não vi nada interessante naquela região. Foram dias lindos com alertas altíssimos de possibilidade de aurora. Se eu tivesse vindo direto pra onde estou agora, que tem 300 mil coisas pra fazer, estaria contando as cores da aurora que eu vi.
Bem, saí hoje cedo e fui pra Kilclooney Dolmen. É uma tumba de pedra que data de 3500 a 4000 anos AC. Senta e chora, Edinburgo!

São duas. Essa mais preservada e a outra ali atrás.

Estima-se que essa pedra pesa umas 100 toneladas. É realmente enorme. Fiquei pensando como fizeram isso aí. Minha teoria é que estava assim, só que com muitas outras pedras. Eles só calçaram essas pedras aí pra dar estabilidade, limparam as outras pedras inúteis e cavaram pra enterrar quem queriam. Chora, alienígenas do passado. Obviamente, que não tenho nenhuma outra teoria do por quê há tantas formações desse tipo. Dá pra acreditar que todas as pedras já estavam em suas posições e era só limpar a área e calçar as pedras escolhidas? Sim! (Ler com a voz do cara do cabelo arrepiado de alienígenas do passado). É possível. A única coisa que estraga minha teoria é quando provam que as pedras vieram de outra região. Acho que não é o caso dessas.

Kilclooney Dolmen

Só sei que é impressionante e me força a pensar em nós como humanidade.
Precisei usar a pedra pra me proteger da chuva. Espero que não haja nenhuma maldição atrelada ao uso do dolmo como guarda chuva, não estou podendo lidar com isso nesse momento.

Castelo de Donegal.

Também visitei o castelo de Donegal. Lá, em um cantinho, tem uma arte de uma comunidade americana e uma história. Lá vai: pra quem não sabe, em 1845 a 1852, a Irlanda passou por um período de grande fome. 25% da população morreu. Inúmeros fatores são responsáveis por esse período, entre eles, foram abandonados pelo Reino Unido (a Irlanda fazia parte do Reino Unido na época), que só recolhia os impostos enquanto assistia a população morrer. 
Indígenas americanos da tribo Choctaws tinham acabado de chegar em suas novas terras, após serem expulsos de sua terra original, no Mississipi, num movimento conhecido como trilha das lágrimas e morte que custou a vida de quase 25% de sua população, quando souberam da grande fome na Irlanda. Eles se organizaram e juntaram 170 dólares (equivalente a uns 5 mil hoje) para mandar pro povo irlandês. E eu chorei bastante.
É por isso que vocês nunca vão me ver do lado de invasor. Meu lado sempre será o dos povos originários. Sempre. Eles são os únicos que amam de verdade o chão que pisam. Tratam com respeito e amor. E se reconhecem.
Por que a Irlanda e os irlandeses em sua maioria sempre se posicionam do lado certo? Porque eles ainda lembram tudo o que sofreram como colônia e fazem questão de nunca esquecer. Queria que brasileiros fossem mais assim, mas o fato é que se fosse pra escolher agora a maioria votaria pra ser colônia de algum desses país aí. No Brasil, a gente não tem conexão com a terra e fazem questão de nos manter assim.
Bem, a humanidade no geral é terrível, mas comunidades são maravilhosas. Só é difícil entender pra que tanto sofrimento num mundo tão abundante (frase que estava no castelo de Donegal). Em qualquer tipo de sociedade animal, um sujeito que tem o equivalente a um iate que precisa de um iate já teria virado camiseta de saudades eternas (sim, é gíria do twitter). Vê se um gorila vai sobreviver acumulando comida enquanto 80% dos outros passa necessidade. Nunca em mil anos.

Três burrinhos

Pra terminar com o astral lá em cima, fica a foto dos burrinhos. Saibam que meu tênis limpinho e sequinho afundou em água de côco de ovelha, mas eu vi o dolmo de Kilclooney bem de pertinho. Amanhã, se tudo der certo, tem mais pedra no meu caminho.

Escrito em 25/3/24.

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