sexta-feira, 31 de maio de 2024

Histórias de fantasma

Safestay


Acordei 4h50 da manhã com um barulho de pancada. Bum. Tentei voltar a dormir, mas passou mais um minuto e bum. Assim que comecei a relaxar de novo pra dormir bum. As outras pessoas do quarto começaram a se incomodar também, dava pra ouvir todos se mexendo inquietos. A cada minuto, mais ou menos, BUM.
Quando o barulho é constante e num volume aceitável, o cérebro se acostuma e deixa de perceber o estímulo. É assim com o barulho do ventilador, por exemplo. Hoje não consigo dormir sem um barulho de fundo. Aqui não tenho ventilador, então coloco aqueles vídeos de ruído branco ou o novo álbum da Taylor Swift.
Já uma pancada alta sempre vai ser percebida pelo cérebro. Bum. Não importa o que esteja fazendo, o cérebro sempre desviará a atenção para o bum. É impossível dormir assim. Isso é até técnica de tortura.
Dá pra argumentar que 5h da manhã já é uma noite completa de sono, ainda mais aqui que já está amanhecendo antes das 4h. Bum. Era a hora que eu acordava no Brasil. 5h da manhã. Qual o problema? O problema é que eu ainda queria dormir então insisti. Bum.
Comecei a ficar puta com o pessoal do quarto. Bum. Só poderia ser alguém fazendo isso. Que tipo de espírito de porco faz um negócio desses? Bum. Ontem já tive que pedir pras pessoas pararem de conversar alto de madrugada. Ia ter que ser a monitora do passeio de novo?
Bum. Comecei a achar que o barulho não era no quarto. Agora minha raiva já corria quente pela espinha. Bum. A guria da cama de cima não parava de se mexer. Eu também não parava. Como dorme assim? Bum. Já tinha passado mais de meia hora disso. Não tem como dormir. Uma das hóspedes percebeu que não havia esperança e saiu do quarto. A guria da cama de cima também desistiu e foi ao banheiro. Bum. Pra ser sincera, achava que o problema era a menina da cama de cima, mas quando ela saiu do quarto, ficou claro que não era. Bum.
Quase 6h da manhã e bum. Resolvi gravar o barulho porque agora ia levar a reclamação pra gerência. Dois bums em pouco mais de um minuto de vídeo e lá fui eu pra recepção. Na recepção, o cara já quis se defender que não era ele. Mostrei a gravação. Bum. Ele levou uma mão ao peito e a outra a boca assustado e me acompanhou até o quarto pra tentar achar o problema.
O problema é que esse albergue fica num prédio histórico. Um casarão de muitos séculos. Acho que sempre foi hospedagem. Muita gente já dormiu sob esse teto. Ainda tem o quarto onde as autoridades ficavam quando estavam na cidade. Meu quarto é a antiga biblioteca. Hoje é o albergue mais barato da região e ainda fica no centro. A primeira vez que me hospedei aqui, dividi quarto com uma profissional da saúde (ela não falou qual profissão) que estava morando em albergues há meses pra poupar. Ela queria abrir um negócio. Então eles recebem todo tipo de gente: turistas, profissionais, famílias, excursão de crianças (no momento, o albergue está com lotação máxima por causa das crianças). Todos os perdidos param aqui. 
O cara da recepção entrou no quarto e observou. Passou um minuto e bum. Ele pulou pra trás com a mão na boca. Percebi que o barulho vinha da janela. Bum. Apontei a janela pro cara da recepção. Outras pessoas estavam no quarto, então não estávamos falando. Bum.
A janela fica na frente da minha cama e a persiana é uma porta de madeira para bloquear o sol, do jeito que era antigamente, mas essa já não fecha mais. É por isso que sei que está amanhecendo antes das 4h. Talvez tivesse percebido antes que o barulho vinha da minha janela se não tivesse cobrindo meus olhos, com um casaco, e ouvidos, com fone e música. Mas agora era claro. Bum.
Pela primeira vez o cara da recepção relaxou. Saímos do quarto e ele falou 'é o vento. Saí pra fumar e todas as vezes tive que ter cuidado porque o vento está muito forte. Vem ver!' Lá fomos pro lado de fora. Realmente o vento estava muito forte. 
Conversamos mais um pouco e ele continuou 'Esse prédio é muito velho, tem uma abertura ali no vidro e o vento tá fazendo o vidro movimentar'. Concordei. Agora dava pra ver que era exatamente o que estava acontecendo. Eu conseguia sentir a corrente de ar também. Mas ele não parou por aí 'fiquei preocupado porque esse prédio é mal assombrado. Você não é a primeira hóspede que me procura por barulhos. Uma vez uma menina estava sozinha no quarto e disse ouvir alguém respirando no ouvido dela. Mesmo depois de eu ter verificado, como fiz com você, ela não aceitou voltar pro quarto. Ficou 4h sentada na recepção. Mas eu não acredito nisso de assombração não. Tá, eu fiquei assustado com essas pancadas aí (colocou a mão no peito de novo), mas não acredito não. É tranquilo. Sabe que a gente já teve clientes que morreram aqui, né?! Muita gente já morreu aqui. Alguns se mataram. Esse prédio é muito velho. Com certeza tem assombração, mas eu não acredito não. Você vai fazer o checkout agora?' Ainda tenho mais três noites aqui. Ele ri sem graça 'poxa, boa sorte, mas é tranquilo aqui'. Rimos. Expliquei pra ele que quem tem ruído branco no fone de ouvido nunca terá problemas de assombração. É por esse motivo também que tenho gatos.

Escrito em 31/5/24.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Coisas que percebi no caminho

A pensadora


Brasil e Reino Unido (estou falando de todos os países no mesmo bloco porque percebi isso em todos e, apesar de serem países diferentes, são bastante parecidos. Além disso, os caras tem coragem de meter um 'América Latina' como um bloco, não sou eu que vou ficar diferenciando Escócia e Inglaterra) são muito diferentes. Cresci assistindo filmes e séries e ouvindo música dessa região, mas ainda assim algumas coisas causaram estranheza. Algumas são besteiras, mas vamos lá:
1- homens pedem o sorvete do sabor que querem, inclusive morango. Quando você, querido leitor brasileiro, viu um homem pedir sorvete de morango? Nunca tinha pensado nisso até ver um homem pedindo sorvete de morango aqui e isso me causou estranheza. E não foi uma vez. Toda vez que estou numa fila de sorvete vejo homens pedindo sorvetes 'de menina'. Achei que algo no cromossomo y impedia o gosto por morango. Sou contra sorvete de morango, no geral, mas conheço mulheres que pedem. Não conheço um homem. Nunca vi um homem entrar numa sorveteria e pedir um sorvete rosa. No Brasil, já ouvi até que doce era coisa de mulher, que macho não come doce. Aparentemente, eles não foram treinados na masculinidade latina e um sorvete é só um sorvete por aqui. Amém.
Aliás, aqui peço sorvete de chiclete com frequência, coisa que raramente faço no Brasil, porque daqui em diante não aceitarei ser julgada pelo sabor do sorvete que consumo.
2- Pessoas com deficiência intelectual (outras deficiências também) estão em todos os lugares. Eles participam da sociedade. Trabalham, viajam, socializam. Recebem o apoio que precisam, mas o objetivo é estarem em sociedade.
Como em todo o mundo, os serviços públicos estão em ataque. A assistência social aqui já foi muito melhor do que é hoje, mas ainda assim é comum pra eles terem todas as pessoas participando. Não sei como serão as próximas décadas, mas espero que isso nunca mude.
Entendi perfeitamente como Derek, o seriado na Netflix (assistam, é uma fofura), é possível. Aquilo ali é o retrato do UK. Talvez seja desconfortável pra algumas pessoas que querem parecer requintadas, mas andando por onde andei falo com conhecimento: aquela é a sociedade inglesa real. Eles são muito mais receptivos que eu poderia imaginar. Eles abraçam os esquisitos (talvez por serem todos esquisitos também).
3- Eles são muito educados. Extremamente. Vão permitir que você faça a merda que quiser sabendo que vai dar merda só pra não ter que causar o constrangimento de corrigir alguém. E corrigir aqui é qualquer coisa tipo um 'isso não é a melhor opção' ou qualquer coisa. Chega a ser engraçado. No começo, fiquei meio puta porque não entendia porque eles não falam diretamente o que é necessário. Agora já estou na paz. Faço as merdas e sigo a vida. Deixa quieto. A piada de que O Drácula, de Bram Stoker, é um livro sobre o que um inglês é capaz de aceitar pra não confrontar, mesmo educadamente, alguém é muito real. O cara vai ver alguém subindo a parede e o máximo da reação vai ser 'oh, my'.
4- Eles são muito fofoqueiros. Muito. Mas não se metem na vida de ninguém. Brasileiro é muito fofoqueiro e se mete na vida dos outros. Eles só são curiosos. Eu achei que seriam mais fechados.
5- São muito engraçados. O humor britânico é conhecido no mundo, mas ver de perto é muito melhor. Um dia fui comprar remédio pro estômago, a mulher perguntou se de 7 ou 14. Pedi o de 14 e culpei a comida daqui e ela com aquela voz inglesa 'oh, dear, não culpe a comida daqui. Nós somos conhecidos mundialmente por termos uma comida de excelência'. A comida daqui é pavorosa e eles são conhecidos por isso. Depois daqui, jamais direi que amo pão. Os caras estragaram pão pra mim. Então foi bem engraçado ela elogiar a comida e certamente o fez na brincadeira.
Por enquanto é só. 

Escrito em 29/5/24.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Voltei pra York

Middlesbrough. Amei o tom esverdeado desse prédio.


Depois de Whitby, a próxima parada foi Middlesbrough. A intenção era a seguinte: Middlesbrough é a última parada da linha de trem do Esk Valley e é significativamente mais barato para hospedagem. Então ficaria lá e pegaria trem pras estações de Moors e faria minhas caminhadas pelo mato. Juro que o plano era ótimo! Principalmente porque estava impossível achar lugar pra ficar em qualquer outra cidade por preço razoável. Já estava preocupada. Até dia 3/6, tava impossível achar bons lugares. Então Middlesbrough foi a melhor opção pra quem não tinha opção.
Cheguei no dia 25/5, sábado, a tarde e a cidade já bateu errado. Não sei explicar então vou culpar a vibe. E não foi minha vibe porque quem falou comigo esse dia sabe como estava meu espírito. Estava animada. Um detalhe importante aqui é que Middlesbrough é uma cidade universitária e eu ficaria hospedada ao lado da universidade.
Era dia de jogo. Algumas ruas estavam fechadas pros carros e tinha banquinhas de comida e bebida, mas não era relacionado ao jogo. Deixei as malas na hospedagem, que me deixou com uma impressão muito ruim, e fui pro pub. City perdeu merecidamente. Saí em seguida porque as coisas podem ficar um pouco tensas entre torcidas. Fui ao mercado. No mercado, a sensação de insegurança aumentou muito. Do lado de fora tinha um cara gritando com um cara dentro. O cara de dentro estava com o rosto estourado de pancada. O segurança colocou os dois pra fora, mas a sensação ruim ficou.
Segui pra hospedagem. Chamo de hospedagem porque não sei dizer o que era. Acho que estavam arrumando, mas do lado de fora parecia abandonado. De dentro, era tranquilo: quarto, banheiro e cozinha. Coloquei uma cômoda contra a porta, tomei um bom banho e fui dormir.
Dia seguinte, domingo, amanheceu chovendo e dei graças a Deus: um dia pra fazer nada (não ia andar no meio do mato com chuva). Percebi a cidade muito vazia. Muito mesmo. Não gosto de cidade vazia. Fiquei enfurnada no quarto curtindo a chuva assistindo série. Foi ótimo. Final do dia, umas 19h, o sol voltou, mas aí já era tarde, eu não ia sair.
Segunda, foi dia de sol e eu decidi ir ao parque. Deveria ter pegado trem. A cidade era fantasma. Não tinha uma alma viva. Só gente bêbada e/ou dirigindo igual louco. Chegando no parque tinha uns quatro sujeitos mal encarados na entrada. Dei meia volta antes de entrar. Passei no mercado de novo, muitas lojas estavam fechadas, fiquei sabendo depois que era feriado, e voltei pro quarto. Foi nesse dia que desisti ainda de manhã. Desisti de ver o que Middlesbrough tinha pra mim. Ainda tinha segunda quase toda e terça inteira, mas eu tinha desistido. Esses dias foram bons pra descansar e pra me reorganizar. Agora sei onde estarei nas próximas semanas. Reservei o que preciso em Glasgow e Londres. Foi bom pra entender também que feriado e verão não me permitem mais escolhas de última hora. As pessoas viajam, não estamos mais em baixa temporada. São as últimas semanas e estou ficando sem escolhas viáveis pros lugares que quero. Tenho que reservar.
Agora estou em York. Fiquei sabendo aqui que essa semana é spring break ou semana do saco cheio, sei lá. Tudo faz sentido. Faz sentido o tanto que tá difícil achar hospedagem viável. Faz sentido o tanto que Middlesbrough estava vazia e todas as outras cidades e transporte lotados.

York

terça-feira, 28 de maio de 2024

Lovely day

Absolutly lovely day (ler com sotaque britânico do século XVIII)


Até acordei cedo, mas saí tarde demais. Cheguei na rodoviária umas 10h e o trem a vapor já tinha ido. Ontem tentei pegar informações, mas cheguei muito tarde e estava fechado. Pela internet não entendi como funcionava então eu precisava de alguém me explicando. Hoje entendi, mas não adiantou nada porque o trem já tinha ido e o outro sairia tarde demais. Não daria pra aproveitar.
A senhora da bilheteria me apresentou outra opção e resolvi fazer o que ela falou: trem até Lealholm, a pé até Egton pela Esk Valley Walk (que são uns trilhas pelo mato e fazendas) e depois trem de volta pra Whitby.
Foi um excelente dia. Parei a caminhada em Glaisdale por questões de segurança (encontrei algumas dificuldades com a lama no caminho e parecia que tinha chuva chegando. Não quis arriscar), mas nada muito importante. No final das contas, foi tudo ótimo.

São três cavalos, um tá nas árvores 

Andei, andei, andei igual a Lizzie em orgulho e preconceito. "O que são os homens comparados a rochas e montanhas?".

Já chegando na estação de Glaisdale

Na estação conheci um senhor. Ele sai de casa andando, anda horas e horas, depois volta pra casa de trem. Disse que faz isso pelo menos três vezes por semana. Achei vida muito boa. Conversamos no trem até Whitby. Falamos como o mundo está ficando mais complicado, da Palestina (ele não quer votar em quem não declarar que reconhece a Palestina nas próximas eleições. Certo ele, mas considerando que Israel é um projeto dos EUA e Inglaterra, isso nunca vai acontecer) e de comunismo. "O que são os homens comparados a rochas e montanhas?".

P.S.: pra quem ficou preocupado com a foca, quando voltei pra Whitby vi que ela ainda estava no mesmo lugar. Tinha passado por um pessoal que cuida de vida marinha e os avisei. Disseram que é o comportamento normal mesmo, que é bom eles saberem que está lá e que vão dar uma olhada, mas pelo que falei tá tudo normal.

Escrito em 24/5/24.

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Ontem não terminou no banho de mar.

Túmulo de Anne Bronte.


Depois do banho de mar, voltei pro hotel pra me esquentar e acabei dormindo. Acordei umas 14h. Ainda estava nublado e chovendo, mas pouco, decidi tentar ver o castelo. Já tinha decidido que não iria pagar pra entrar, só veria os arredores. Funcionou bem porque enrolei demais e só cheguei quando estava fechado.
Primeira parada era uma igreja e um cemitério, onde descansa Anne Bronte.

Essa névoa, esse clima, esse lugar tudo feito pro terror.

Ao lado do túmulo da Anne Bronte tinha um banco. Sentei lá mais pelo descanso, porque sabia que teria que subir até o castelo, que pela contemplação. Uma senhora sentou comigo e batemos papo. Os velhos daqui gostam de conversar. Eles estão muito curiosos mesmo. Devem perceber que não sou daqui e que sou amigável, aí querem saber minha vida toda.
Bem, depois de contar todos os detalhes da minha viagem pra essa senhora segui pro castelo. Não fui lá em cima. Toda vez que pago pra ver castelo me arrependo. Vou ver só os gratuitos daqui pra frente.

Castelo de Scarborough.

E foi assim que encerrei o dia de ontem. Fiz tudo o que tinha programado pra fazer em Scarborough. Foi uma vitória.
Hoje de manhã não acordei no meu melhor. Perdi o café da manhã e fui direto pra estação pegar o trem pra Whitby. Na estação, descobri que não tem trem pra Whitby, só ônibus. Considerando que tenho enjoo em ônibus, foi ótimo não ter comido. No ponto de ônibus, encontrei a senhora do túmulo da Anne Bronte. Conversamos mais um pouco. Ela tinha me dito que viria pra Whitby também.
A viagem de ônibus foi horrível, mas sobrevivi sem acidentes. Estômago vazio ajudou. Chegando em Whitby quem eu encontro? As senhoras do café da manhã. Elas sentiram minha falta de manhã. Estavam felizes que eu estava bem e tinha seguido viagem. Sentamos num café pra conversar. Acabei perdendo o ônibus pro hotel e tive que subir tudo a pé, mas foi legal encontrar com elas. Deveria ter pegado o contato. Uma meio que me convidou pra ficar na casa dela em Glasgow, mas não foi um convite direto e eu não sei como funcionam essas coisas aqui. Sei que não deixei meu contato nem peguei delas. São pessoas do caminho que eu gostei muito. Só muita sorte pra encontra-las novamente. Elas disseram que se viam em mim, que se fossem mais jovens iam me seguir. E eu espero ter a sorte delas, de envelhecer viajando.
Cheguei no hotel e a chuva ficou forte. Já tinha desistido do dia, mas precisava sair pra comer. Já eram umas 15h e eu não tinha comido nada. Saí. A chuva diminuiu, então achei que deveria ver a abadia. Amanhã queria ir pro Moors, se for mesmo, só tenho hoje pra ver Whitby.

Quando comecei a subida pra abadia. Já dá pra ver céu.

Whitby é a cidade por onde o Drácula entra na Inglaterra. Excelente escolha do Bram Stoker. Tudo aqui é perfeito pro terror.

Olha esse visual.

O clima, o nublado, a névoa, os lugares. Tudo feito pro terror.

Abadia e museu (em reforma) ao fundo.
O sol acabou dando o ar da graça. Na descida, enquanto tirava fotos, uma par de mãe e filha (imagino) começou a bater papo comigo. Ela disse que nunca na vida viu aquela escada tão vazia, falei que era tudo pra mim. Ela riu e concordou. Tudo pra mim. Ela disse que eu não era local e perguntou de onde era. Lá vou eu explicar tudo. No final estávamos cantando e dançando Take That. A filha me deu umas dicas boas. Tomara que dê pra colocar no roteiro. As pessoas do caminho são muito legais.

O sol

Segui pro farol. Queria ir nos dois. Quando cheguei perto do menor vi que não podia entrar. O mar tava revolto e tinha risco de onda cobrir a passagem, mas acabei encontrando mais um no caminho.
Foca no caminho 

Ainda não consegui decidir se ela estava bem ou não, mas acho que sim. Tomando um solzinho.

Terminou que fiz tudo o que tinha programado fazer em Whitby, agora só me resta Moors.
Só consegui comer umas 20h, depois de um banho necessário e merecido. Agora estou na cama deixando o sono chegar.

P.S.: Beato Carlo Acutis teve seu segundo milagre reconhecido. Agora deve ser santificado. Um menino, o santo. (Quem não sabe do que estou falando, procure as postagens de Assis).

Escrito em 23/5/24.

domingo, 26 de maio de 2024

Scarborough

Quando eu cheguei tinha sol


Estou no segundo dia inteiro em Scarborough. Dois dias de chuva. Hoje tá pior que ontem. Ontem estava com dor do pé então aproveitei o dia chuvoso pra ficar quieta. Deveria ter saído no final do dia, quando a chuva tinha melhorado, mas não saí. Hoje tá com cara que não teremos trégua. Amanhã já vou pra próxima cidade, então talvez não consiga aproveitar nada além do descanso aqui.
Os idosos estão muito cismados com a minha existência. Ontem uma senhora veio perguntar quem eu sou e aproveitei pra perguntar deles também. É uma excursão de idosos. Eles estão fazendo o mesmo roteiro que eu, mas numa excursão de ônibus. Talvez os encontre na próxima cidade.
Já fui chamada de menina esperta muitas vezes. É interessante como falam comigo como se eu tivesse 7 anos. Hoje as senhoras vieram conversar comigo de novo no café da manhã. Falei que tenho 40 anos e elas não acreditam. Talvez elas achem que tenho 7 anos mesmo. Disseram que não deixasse meu celular sozinho na mesa porque ladrão também envelhece e mesmo só tendo idoso ali alguém pode me roubar. Já aviso aqui que eu, brasileira, se for roubada por um idoso europeu tô encerrando minha relação com a humanidade. Vai ser humilhação demais pra continuar.
Não vou tentar chutar idade, mas diria que elas têm uns 70 anos. Contaram que são amigas a vida toda e viajam juntas quando podem. Nos anos 70, viajaram pela Itália pedindo carona. Juram que naquela época era seguro e agora é o caos. Disseram que jamais deixariam as filhas fazerem o que elas fizeram. Não sei... até o momento não senti nenhuma insegurança. Tudo sob controle o tempo todo, exceto na Itália quando o cara ficou me seguindo chamando pra fumar maconha. Ali deu medo, mas foram uns 5 minutos de tensão e a polícia estava próxima.
Depois do café da manhã resolvi dar um mergulho no mar. Só um mergulho. Foi muito interessante. O mar tava tão frio que meu cérebro não registrou como frio. Só senti o corpo ardendo. Fiquei vermelha muito rápido e ardendo muito, mas frio mesmo veio depois. Nada como um banho de água salgada, né?! 

Escrito em 22/5/24.

sábado, 25 de maio de 2024

Igual tubarão

Shambles.


Hoje é dia de continuar o caminho. Tinha deixado pra comprar umas coisas hoje então só tinha algumas horas pra fazer tudo. Tinha que resolver um problema no meu número daqui, então foi minha primeira parada. Depois tinha que comprar umas coisas pras sobrinhas e tentar achar uma loja. Vi um gatinho que eu queria.

O tanto que o gatinho pazuzu faria sucesso no twitter não tá escrito.

Consegui achar a loja, mas acabei não comprando porque era pesado demais. Tomara que ache algo semelhante e menor em Londres. Amei demais. Não sou uma pessoa de decorações, é muito raro querer algo e esse eu quero.
Segui pra estação de trem. Acabou que fiquei num vagão com um exemplar perfeito de guri de Manchester. Viagem curta, graças a Deus. O menino veio perturbando todo mundo. Ele sentava do lado de umas senhoras de 80 anos, mandava um 'oi, gata, quer ser minha namorada?' ligava pra família dele em vídeo e mostrava a 'nova namorada' pra família. Quase uma hora disso. Até que uma indiana LINDA deu bola pra ele. Trocaram número e tudo. Beleza, em um momento ele falou alguma coisa comigo e ela 'você quer ficar com ela agora? Agora ela é sua namorada?'. Em meia hora eles começaram a namorar e tiveram a primeira briga. Quando a viagem chegou ao fim fiquei aliviada. Mas entregou muito entretenimento.
Agora estou esperando o check in no hotel.

Sinto que terá mofo.

Hotel desse tamanho pelo preço que estou pagando, com certeza os dias de glória ficaram no passado, mas é muito bem localizado e de frente pra praia. Até o momento, só tem eu e um monte de casais de idosos e todos eles me pedem ajuda achando que trabalho aqui. Quarto, banheiro individual e café da manhã. Podia ser pior. Já dei uma voltinha pela cidade e já gostei. Tô no lugar certo.


Escrito em 20/5/24.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

O dia inteiro

Subindo a catedral de York 


Hoje foi meu único dia inteiro em York. Estou considerando voltar porque gostei muito e fiquei pouquíssimo tempo. Veremos como segue o caminho.
Resolvi que ia tentar organizar o dia de hoje. Coloquei as principais atrações da cidade no maps e saí andando.
A primeira parada foi uma viela chamada Shambles, é conhecida por ser a inspiração para o Beco Diagonal do Harry Potter.

Não sei como era antes, mas hoje é praticamente tudo dedicado ao Harry Potter.

Nessa mesma direção fica o mercado. Não sei se é mercado permanente ou se funciona apenas nos finais de semana, mas é bem legal. Muita variedade de produtos a venda. Muitas joias/bijouterias.

De lá, segui pra Catedral de York. Ainda estava fechada então fui dar uma volta. Tinha uns jardins bonitos. As pessoas estavam pela grama aproveitando o sol. Não fica um em casa em dia de sol nas bandas de cá.

Na catedral de York tinha como subir pra ver a cidade de cima e eu prometi pra mim mesma que não faria isso, mas o cara da bilheteria ofereceu e nem hesitei. Pro meu total espanto, aceitei. 
Lá fui eu subir escada. E, assim, o problema não é subir escada. Meu problema é pagar caro pra subir escada sabendo que não tem nada lá em cima. Não tem. Vai ver telhado e só.

Vi telhados

A Catedral é enorme. Tem uma cripta com um monte de corpos. Todos escondidos. É assim que se sabe que a igreja não é católica. Se o santo não tá exposto, não é católica.

A próxima parada era a abadia de Santa Maria e os jardins do museu. Passei na frente de um prédio que tinha escrito bem grande MONET. Ontem mesmo eu estava chorando as pitangas por não ter visto um Monet em Paris. Entrei pra perguntar se tinha Monet mesmo e tinha. A lagoa de lírios d'água. Pode um negócio desses? Universo, eu vou chorar por uma mega sena acumulada!

Não vou mentir, chorei mesmo.

Agora, sim, para o jardim.

Daí já tava dando quase 17h. A última rodada da Premier League já tinha começado. Achei um pub pra assistir o jogo e finalizar o dia.
City campeão.

Escrito em 19/5/24.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Cidade de bruxa

"Castelo"


Ontem cheguei em York. É uma cidade medieval, mas que foi fundada muito antes pelos romanos, muito bonitinha. Andei por umas ruas, vi uns parques e foi isso. Amei. Cheguei e amei e cada lugar que eu via me fazia amar mais. Já estava no final do dia, então foi só.
Consegui decidir as próximas paradas também. Pelo menos até dia 30/5 eu tenho destino. A partir do dia 10/6 também. Só preciso decidir o que fazer nos primeiros dias de junho. Depois fica praticamente tudo encaminhado. Julho em Londres, depois Brasil. Ainda tenho sete semanas pela frente, mas sinto como se já fosse o fim. E eu não quero que acabe.
Ao mesmo tempo que estou muito cansada, e estou mesmo, queria ficar mais. Ver mais coisas. Conhecer mais lugares. Andar de trem sem compromisso de chegar em algum lugar. A sensação é que passou rápido demais.
Acho que em algum momento perdi controle da viagem e os dias se foram. Agora finalmente parece que está tudo nas minhas mãos, estou indo por onde quero, sem dramas, sem sustos e aí já tá tudo no fim.

Essa é York. Uma cidade encantadora.

Escrito em 19/5/24.