segunda-feira, 29 de julho de 2024

Londres



Hoje foi meu último dia inteiro em Londres. Só saí pra fazer umas compras. Tô pensando como enfiar tudo nas malas. Vai ter que caber, mas não vai ser fácil. Amanhã vou reorganizar a bagagem pra ver o que posso fazer. Não estou levando lembrancinha pra ninguém. Não tenham esperança. Nem chaveiro. Nem minha caneca que eu queria.
Mas vamos pra Londres. Nessa viagem, vim a Londres em três momentos: 4 dias na chegada (antes de ir pra Inverness), 4 dias depois da Itália (antes de ir pra York) e esse mês inteiro.
Nas duas primeiras vezes, todos os meus posts foram muito positivos. Falei que tinha amado Londres e os londrinos. Quando falava isso pras pessoas que conheci pelo caminho, eles se surpreendiam. A maioria tinha uma história ruim daqui. Diziam que as pessoas eram grosserias, nervosas e apressadas.
Esse mês fui forçada a concordar com eles. Todo dia presenciei briga em transporte público ou mercado ou só na rua mesmo. Gente muito nervosa e irritada. Isso acabou mudando minha atitude por aqui. Depois da agressividade gratuita das mulheres no show do Robbie Williams, passei a ter medo das pessoas. Principalmente mulheres brancas. E, não, aqui não sou vista como mulher branca. Daí pra frente, foi só ladeira abaixo.
Vi homem adulto dando piti de bater os pés no chão e gritar igual criança de três anos porque o cara do metrô disse que ele não conseguiria entrar com a bicicleta. E ele não foi o único. Tô começando a achar que os românticos que critiquei no outro post com os desmaios desmedidos talvez estivessem retratando a realidade da histeria nas terras de cá.
Aqui eles gritam com a pessoa por qualquer motivo. O cartão não passou no ônibus: gritaria. Eles presumem má fé sempre. Pra mim, isso é muito assustador. Não tô acostumada com esse nível de agressividade.
Todas essas coisas fizeram minha atitude mudar. Se nas primeiras visitas eu tinha uma certa abertura pras pessoas, dessa vez mal fiz contato visual. Sabe por que? Vi uma briga enorme no metrô porque um cara encrencou que uma mulher estava olhando pra ele. Teve que ter segurança lá.
Não sei o que mudou da minha última visita pra essa, talvez eu tenha usado mais transporte e saído para lugares mais comuns. Não entendo o que houve, mas é outro clima totalmente. Quando cheguei, tomei o tombo na banheira e fiquei uns dias me recuperando, só andei pelo bairro. Fui ao supermercado uma vez e a mulher gritou comigo porque meu cartão de fidelidade não tem código de barras (não consigo baixar os apps porque Playstore não reconhece que estou aqui) e tem que digitar os números. Digitou, mas antes teve a sessão descarrego dela. Tenho esse problema do cartão desde fevereiro, passei por sei lá quantas cidades, inclusive Londres, e nunca tive problema quando pedia pro pessoal digitar. Nunca. Depois foram as mulheres do show. E todos os dias daí pra frente foram assim. Diretamente comigo acho que foram só essas duas vezes (supermercado e show). Teve um motorista de ônibus que ia começar a gritar comigo por causa do cartão, mas já peguei o dinheiro e ele não gritou. Mesmo não sendo comigo, todo dia tinha uma cena.
Quando voltei de Cardiff, teve cena no ônibus (duas vezes) e no supermercado. Nos dois deu polícia. Não sei como alguém consegue viver nessa tensão a vida toda. Ou não vivem. Às vezes já estão acostumados. Pra mim, foi um mês de tensão constante. Turista já faz merda normalmente (não estamos acostumados com a cultura etc) e tento evitar. Além do nervoso de não querer fazer merda, ainda tinha o medo de levar grito. Então foi isso... Foi um mês que fiz bastante coisa, mas me senti mais isolada do que nunca.
Agora entendo demais quem está com malas prontas pra sair daqui. Obviamente encontrei gente muito legal e prestativa, mas já estava feral. Não queria contato nenhum com humanos. Foi um mês mas difícil.
Por isso também não escrevi tanto. Além de ser cidade e só estar fazendo coisas de cidade, na maior parte, que não me interessam muito, não queria transmitir as bad vibes desses dias aqui. E agora chegou ao fim. Volto pra casa com mala cheia, o coração e a cabeça também. Agora vamos pra vida real que toda fuga é temporária.


Escrito em 28/7/24.

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